Usos e Olhares: dos recursos ao património

Mitologias Agrárias: Coerência e Persistência

Património Geológico e Turismo: como potenciar interrelações e dinamizar o Desenvolvimento Rural nos Açores

Estudos Rurais: Valores e Contra- Valores da Paisagem Rural

Memória e agência no Alentejo: Percepções da paisagem numa aldeia mertolenga

Educação, Ruralidade, Periferia e Identidade: Notas para uma abordagem performativa

Paisagens e patrimónios. Novos caminhos para os territórios rurais: a experiência de uma Associação de Desenvolvimento Local no Alentejo

O Mundo Rural e os Novos Desafios

O Papel da Escola no processo de Inserção Social

Ambiente e Desenvolvimento. Da Morte à Ressurreição do Alviela

 

 

Mitologias Agrárias: Coerência e Persistência 

Costa, A.

Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo. Antonieta_c@hotmail.com

Observando as datas de ocorrência das principais festividades tradicionais (populares) nos Açores, verifica-se uma grande coincidência entre estas e as datas das mudanças no calendário solar, como sejam os Solstícios e os Equinócios.

Não só estas festividades coincidem com o calendário solar, como continuam a reflectir as simbologias e crenças que lhes deram origem. E a persistência destes eventos, em alguns países Europeus, indicia, pelas grandes semelhanças entre si, que no passado já terá abrangido toda a área afecta à Civilização Ocidental. Pode-se mesmo afirmar que a base da cultura Indo-Europeia é configurada pelas suas mitologias agrárias.

Embora a persistência destes elementos, interpretativos da Terra e dos seus ritmos, seja própria dos seres humanos e se manifeste nas mais diversas culturas através das mais diversas formas, nomeadamente pelo ritual, a Europeia possui algumas idiossincrasias, que o ritual tem mantido vivas no imaginário das populações.

Através do seu vocabulário, a relação com a natureza aparece ligada ao restante sistema solar, ultrapassando poderosos constrangimentos, quer espirituais, quer materiais, e manifestando-se transversalmente nos vários modelos civilizacionais que a humanidade atravessou.

Na Civilização Ocidental, esta persistência tem ido cedendo às lógicas economicistas que invadiram as suas sociedades, mantendo-se, no entanto, em alguns locais, onde os rituais ligados às mitologias agrárias, periódica e circularmente exibem esse magnífico cântico aos deuses.

A capacidade interactiva do homem com a terra e com a restante natureza, ao ser substituída por uma delegação de poderes na tecnologia, interrompeu a linha investigadora de capacidades humanas que vinha sendo desenvolvida. Porém, através de uma análise hermenêutica dos rituais ligados ao Calendário Cósmico, mesmo que sumária na interpretação dos seus códices, a ponte necessária a uma retoma deste pensamento poderá ser restabelecida.

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Património Geológico e Turismo: como potenciar interrelações e dinamizar o Desenvolvimento Rural nos Açores

Costa, L. R. 1; Neves, A. O. 2 & Porta, M. 3

1Engenheiro de Minas. Assessor da D.G. de Geologia e Energia.

2 Economista. Investigador do IESE – Instituto de Estudos Sociais e Económicos.

3 Engenheira Zootécnica. Colaboradora permanente do IESE.

Esta comunicação tem um ponto de partida: os territórios têm recursos com valia própria, reconhecida dentro e fora, mas frequentemente não beneficiam do aproveitamento e valorização que o seu potencial latente justificaria.

Os recursos do património geológico (os fenómenos geológicos) dos Açores podem ser um exemplo‑ tipo dessa realidade como o comprova o facto de nunca terem germinado na Região, de modo estruturado, actividades de geoturismo que a riqueza e diversidade daqueles fenómenos tenderia a justificar.

As inter-relações entre património geológico e turismo, por um lado, e entre este par e o desenvolvimento rural, por outro lado, têm nos Açores um contexto favorável de potencialidades, gerador de actividades e de ocupações/empregos. A afirmação desse potencial não pode, todavia, ignorar a relevância da problemática ambiental tanto na envolvente dos recursos geológicos, como no próprio condicionamento do desenvolvimento rural do Arquipélago.

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Estudos Rurais: Valores e Contra- Valores da Paisagem Rural

Janeiro, P.

Departamento de Arquitectura (Faculdade de Arquitectura, UTL). Mestre em Cultura  Arquitectónica Contemporânea e Construção da Sociedade Moderna. pajaneiro@fa.utl.pt

Digamos, de uma forma resumida: a cidade – o espaço urbano –, e o espaço rural aparecem empiricamente aos sentidos como realidades materiais, como conjuntos de qualidades sensíveis, como conjuntos de espaços edificados e de espaços por edificar. Estes conjuntos são consequência e determinam uma certa dinâmica, um certo modo e uma forma particular de se-ser que é implícita a uma determinada forma de se-estar, e que define aquilo a que podemos chamar /sociedade/. De facto, a forma particular de se-ser é complanar com a de se-habitar. Tanto assim parece ser que se torna praticamente impossível pensar-se o homem sem pensar em espaço. Claro que existem Disciplinas, como a Matemática ou mesmo a Física, que se esforçam por pensar o espaço desencarnado de homem, desabitado, abstractisando-o assim. Porém, não nos interessa aqui: nem analisar o espaço de um ponto de vista disciplinar abstracto, nem escorregar numa espécie de divagação filosófica para onde o discurso académico, por vezes, resvala.

Partamos, portanto, de princípios claros e de plataformas com alguma solidez. Admitamos: a forma particular de se-ser é complanar com a de se-habitar e, assim sendo – temos que concordar: construímos os espaços mas acabamos por ser construídos por eles.

Mas, posto isto, será que podemos falar nos dias de hoje em tipologias específicas de espaço e de sociedade? Fará sentido, num tempo em que o consumo conspícuo, do imediato e do momentâneo, torna todas as formas de tempo e de espaço universalmente equivalentes, falar de espaço e sociedade rurais?

Podemos encontrar quase todas as respostas a estas inquietações na própria nomenclatura utilizada para as formular. Dizemos /espaço rural/ em contraponto com quê? Dizemos /sociedade rural/ em contraponto de quê? Dizemos /mundo rural/ como contraponto de quê? Dizemos /regiões periféricas/ em contraponto com quê?

Em uníssono podemos responder com alguma segurança, e respectivamente: espaço urbano, sociedade urbana, regiões centrais, órgãos de decisão, poder, modernidade, etc. Todas as respostas devem, portanto, ser colocadas desde este ponto de vista porque foi a cidade que, recusando o campo, criou o espaço rural, olhando-o, depois, de longe nostalgicamente. A cidade instituiu um certo modelo recusando o campo, tornando-o periférico no seu campo de visão. Hoje, tenta a todo o custo recuperá-lo, ressuscitando-o. Mas porquê?

Hoje esforça-se por encontrar nele valor e procura solucionar os problemas específicos das regiões tornadas por si periféricas. Mas com que sentido? Com que objectivo?

Assistimos à desertificação dos espaços rurais, um êxodo de proporções bíblicas em busca da terra prometida, da terra das oportunidades, no fundo, da cidade. Da cidade, centro dos poderes, que olha paternalista para o espaço rural. Mas também não nos cabe ajuizar, neste Congresso, nem erros cometidos pelas políticas do passado nem tampouco cruzar resignadamente os braços. Interessa-nos, isso sim, reflectir acerca dos mecanismos que possam minorar esses erros e que, de alguma maneira, solucionem os problemas específicos actuais que envolvem os espaços rurais. E que problemas são esses? A desertificação, a ausência de postos de trabalho, o isolamento, não caindo uma vez mais na ilusão de que foi boa a vida do campo. É que, de algum modo, essa ilusão, fruto de uma certa mistificação urbana, é também responsável pelo esquecimento das populações rurais e de toda a sua envolvente socio-económica.

Porém, e para além destas considerações, é facto que germinou muito recentemente um interesse pelos espaços rurais de que até este segundo Congresso é sintoma. Entrámos recentemente numa cultura do ócio.

Os espaços rurais dispõem de um património: a paisagem.

A paisagem rural é, digamos, uma entidade híbrida complexa que relaciona a paisagem natural propriamente dita, o património tangível (realidades edificadas, tipologias arquitectónicas diversas, a pintura, etc.), o património intangível (a transmissão oral, a gastronomia, a música) e um certo modo de se-ser e de se-habitar que testemunha e é consequência de uma certa relação com o mundo.

A paisagem pode, entendida deste ponto de vista abrangente, ter um papel fundamental no desenvolvimento económico e social dos espaços rurais. Mas como?

Vivemos, na contemporaneidade, num mundo de imagens, de hiper-realidade e simulacro puro3, estetizado pela arte4, e os espaços rurais não fogem a esta regra. A sociedade contemporânea vive impregnada de uma procura constante do bem-estar, da beleza e da felicidade e o homem contemporâneo embriaga-se nesta procura procurando uma espécie de eu-outro, no fundo uma outra imagem para si próprio, de si próprio para seu próprio consumo e para o consumo dos outros. Mas, claro, que será da personagem que o actor interpreta sem um cenário? Uma narrativa incompleta e absurda.

A paisagem pode, assim, ter um papel fundamental no desenvolvimento económico e social dos espaços rurais quando se torna num produto, quando se torna em algo tão transaccionável como uma imagem. Porém, se não conscientes do produto com que lidamos, correremos o risco de transformar o valor que a paisagem contem em um contra-valor.

Mas, lidar com a paisagem como uma imagem não será tarefa fácil tornando-se fundamental uma meditação cuidada.

A paisagem é uma extensão de território que se abrange de um só lance de vista e que se considera pelo seu valor artístico, pelo seu pitoresco.

A noção de paisagem implica, primeiro e antes de tudo, considerar a distância que aparentemente separa o observador do observado, como, temos também que considerar, é esperado que do observador seja lançado um olhar contemplativo disponível que reconheça na cena observada um determinado valor, digamos estético. Quanto mais susceptível de contemplação for essa cena, mais contemplativo será o olhar e mais valor seremos capazes de atribuir a determinada paisagem – isto dirão os mais desatentos.

Nunca como nos nossos dias ouvimos falar tanto de paisagem e a paisagem – assim dita –, acabou por conseguir abarcar tudo aquilo que o discurso político e, por arrasto, o jornalístico lá quiseram pôr dilatando, assim, a paisagem numa panorâmica que até há bem pouco tempo estava consagrada à natureza e à Pintura. Nunca mais será possível falar de paisagem sem que, à cautela, tenhamos que associar um ou outro vocábulos: paisagem rural, paisagem urbana, etc.

Debrucemo-nos, sobretudo, sobre a paisagem rural recuperando as duas ideias iniciais: a da distância entre o observador e a cena observada, portanto a da imagem; e a da possibilidade de atribuição de valor.

     1. A distância entre o observador e a cena observada.

Referirmo-nos à paisagem rural é referirmo-nos à paisagem do campo, à imagem que determinado espaço rural nos oferece desde um determinado ponto de vista, mas, para que tenhamos esses acesso panorâmico do espaço rural – para que dele vejamos uma paisagem –, é necessário, por imposição das nossas faculdades perceptivas (visuais), sair desse espaço rural garantindo entre ele e nós uma certa distância. Digamos: uma distância física capaz de transformar esse espaço numa imagem que se abranja de um só lance de vista, como em uma pintura. É sobre essa imagem do espaço que agimos em termos paisagísticos. Portanto, tal como no desenho e na Pintura, a escolha do ponto de vista revela-se essencial. Porém, o olhar o espaço rural – deste prisma –, nunca é uma actividade pacífica seja de que ponto de vista for, porque o espaço rural é muito mais do que o conjunto de edifícios dispostos por ruas, ou uma povoação rústica onde podem ou não existir edifícios com qualidade reconhecida pelos órgãos decisores centrais, mas onde invariavelmente a natureza como característica predominante. E nunca é pacífico olhar-se o espaço rural, nestes termos paisagísticos que propomos, porque o habitar estes espaços é bem diverso do habitar ficcionado da pintura muito embora seja com o olhar emprestado à pintura que podemos construir e reconstruir a paisagem rural, e tentar nela reconhecer qualidade mediante uma tentativa de atribuição de valor.

     2. A possibilidade de atribuição de valor.

Como vimos, a noção de paisagem não é desvinculável dos territórios operativos da Pintura. A inquietação da Pintura é toda dirigida ao homem e não à realidade tal como ela é, isto porque a realidade, não existindo nela própria, depende do observador que é quem a significa. Os critérios da Pintura são implícitos à paisagem quer em termos de composição, quer em termos de valor. Mas não falamos de Pintura de uma forma genérica, antes de uma tipologia muito específica. Devemos sobretudo à Pintura a imagem que formulamos quando pensamos em espaço rural. Devemo-lo sobretudo a uma pintura de pendor naturalista e/ou realista dos meados do século XIX que retrata o campo de um modo muito particular porém longínquo da realidade. Devemos essa imagem de espaço rural a esse tipo de Pintura que em Portugal consagrou nomes como Silva Porto, Falcão Trigoso, Souza Pinto ou Malhoa, como devem os ingleses a imagem de jardim romântico a John Constable, como devem os franceses a imagem dos ambientes pequeno- burgueses parisienses a Auguste Renoir ou a imagem de bordel a Henri de Toulouse-Lautrec, como todos devemos tudo a Picasso. Olhamos para a paisagem com os olhos da Pintura, formulando imagens, efabulando narrativas, procurando naquilo que vemos diante de nós a confirmação daquilo que imaginámos ou que nos foi mostrado nas telas. Mas é aqui justamente que as cautelas devem ser redobradas. É que, aquilo que os pintores pintaram e que foi sobretudo cenas campestres idealizadas, pastores contra a luz ténue do pôr- do- sol, o regresso a casa dos rebanhos, etc, estava longe de ser a realidade desses espaços já na altura periféricos. E que realidade era essa? Excluindo uma certa aristocracia rural em declínio e uma burguesia em ascensão, a realidade era a do analfabetismo, da ausência de assistência médica ou de qualquer tipo de segurança social, a da inexistência de saneamento básico, água ou electricidade, uma rede de transportes deficientes. Isto foi o que os pintores não quiseram ver. Mas o que viram, ou o que quiseram mostrar, influenciou até hoje a imagem que formulamos para o campo. É o valor dessa imagem que pode ser transformado num produto comercializável capaz de resolver os problemas específicos das regiões periféricas despoletando mecanismos económicos e sociais eficazes.

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Memória e agência no Alentejo: Percepções da paisagem numa aldeia mertolenga

Carolino, J.

Doutoranda em Antropologia Social. Departamento de Ciências Humanas da Universidade de Brunel.julia.carolino@brunel.ac.uk

Nesta comunicação apresentam-se dados preliminares de uma investigação em curso sobre percepções da paisagem no Alentejo. A pesquisa em questão interessa-se pelo modo como os habitantes de um território específico (no concelho de Mértola) vivem as transformações em curso ao nível dos usos do solo; em termos nomeadamente de uma progressiva restrição do acesso ao campo. Este problema é abordado numa perspectiva antropológica, interessada na relação entre a memória social despoletada pela topografia local e as práticas quotidianas que a actualizam.

À luz de etnografia realizada recentemente numa aldeia mertolenga, problematiza-se a noção culturalista de paisagem enquanto construção simbólica ou conjunto de significados que se justapõem à realidade física subjacente. Procurar-se-á deste modo contribuir para a concepção interdisciplinar da paisagem enquanto realidade dinâmica; defendendo que a experiência concreta dos lugares e das narrativas que os mesmos convocam é um elemento central da constituição e actualização das relações que grupos sociais estabelecem com os territórios que habitam.

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Educação, Ruralidade, Periferia e Identidade: Notas para uma abordagem performativa

Sousa, F. R.

Universidade dos Açores (Departamento de Ciências da Educação)

Contrariamente ao que acontece em países como a Austrália e os Estados Unidos da América – onde a Educação Rural constitui uma área de estudo consolidada -, em Portugal os estudos sobre educação em meio rural são pouco abundantes. Uma parte significativa destes últimos tem estado associada a projectos de intervenção educativa que visam contribuir para a construção de respostas a problemas específicos de pequenas escolas do 1º ciclo do ensino básico, principalmente o seu isolamento e a pressão para que encerrem.

Esse esforço no sentido de intervir sobre a escola em meio rural e produzir conhecimento sobre a mesma tem sido perturbado por vários equívocos, entre os quais o da “idealização da escola rural” (Canário, 2003), isto é, a ideia de que se pretende preservar a escola rural tal como ela sempre existiu. Uma das formas de evitar este equívoco é partir do princípio de que vivemos numa época de “crescente indissociabilidade entre mundo rural e áreas urbanas” (Ferrão, 2000, p. 45) e contextualizar as questões identitárias e pedagógicas relativas aos espaços rurais não só na interpenetração entre estes últimos e o mundo urbano mas também no cruzamento das múltiplas identidades e experiências do aluno.

A equívoca idealização da escola rural corresponde a uma perspectiva essencialista da identidade rural, cada vez mais insustentável face ao provavelmente irreversível processo de globalização da cultura urbana. Em alternativa a essa visão essencialista, propõe-se uma visão performativa com base no pressuposto de que “o conceito de performatividade desloca a ênfase na identidade como descrição (...) para uma concepção da identidade como movimento e transformação” (Silva, 2000, p. 92).

Nesta comunicação pretende-se articular as reflexões teóricas acima esboçadas com a discussão de alguns dados recolhidos num estudo empírico realizado numa escola básica e secundária da Ilha Terceira, Açores. Esses dados referem-se a algumas experiências de alunos que transitam diariamente entre a sua escola, situada numa cidade, e as suas residências, situadas num espaço mais rural. Com essa discussão, procurar-se-á evidenciar que uma concepção categorial e essencialista da ruralidade se torna redutora face aos desígnios de uma escola inclusiva, respeitadora das diferenças e promotora da equidade.

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Paisagens e patrimónios.

Novos caminhos para os territórios rurais: a experiência de uma Associação de Desenvolvimento Local no Alentejo

Catarina Oliveira

Presidente da Direcção da MARCA-ADL. Licenciada em História – Variante de Arqueologia (1994) e Mestre em História Regional e Local (1999) pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Doutoranda em Antropologia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Largo General Humberto Delgado n.º 7, 1.º, Apartado 188. 7050-014 Montemor-o-Novo. Tel./fax: 266 891 222.marca.adl@mail.telepac.pt

Dois tipos de processos de construção cultural operam hoje no território rural: o da construção da paisagem e o da construção do património. Os novos usos dos territórios rurais integram-se actualmente num processo mais amplo que designamos por patrimonialização, pelo qual os bens e espaços ligados à ruralidade – os que beneficiam de maior poder evocativo – são promovidos à categoria de património. A produção artesanal de objectos, os saberes- fazer ligados à construção, as práticas agrícolas que historicamente desenham as paisagens, são alguns dos actos performativos que integram os processos de patrimonialização dos territórios rurais. Encontramo-nos perante uma reinvenção do rural, através da qual se recompõe o passado a partir do presente conferindo novas definições aos campos, num jogo subtil entre o local e os anseios da sociedade global.

Nesta comunicação pretende-se reflectir sobre as novas vias para o desenvolvimento dos territórios rurais, ligadas à diversificação de actividades e à inovação, e sobre os processos recentes de patrimonialização das paisagens. Estas questões serão discutidas tendo por referência um concelho no Alentejo e a experiência de uma Associação de Desenvolvimento Local.

Em Montemor-o-Novo, um território ainda identificado com práticas e valores do mundo rural, a construção de caminhos alternativos para o desenvolvimento tem passado pela valorização dos recursos locais e por uma reflexão em torno da possível revitalização social e económica de produtos e actividades tradicionais, conferindo-lhes novas valências adequadas ao contemporâneo.

A partir de valores culturais e ambientais da região (um telheiro - unidade tradicional de produção de materiais cerâmicos para a construção, os brinquedos populares, as plantas medicinais e a paisagem rural) a MARCA-ADL tem procurado criar novas dinâmicas de desenvolvimento. Património e paisagem têm sido as matérias-primas a partir das quais, ao longo dos seus sete anos de actividade, tem construído o seu percurso. A sua intervenção tem procurado um diálogo de valores e sistemas identitários entre a tradição e a modernidade, na definição de um modelo de desenvolvimento local qualificado e inovador.

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O Mundo Rural e os Novos Desafios

Almeida, M. A. P.

CEHCP. ISCTE. Lisboa. Maria.antonia.almeida@touratech-portugal.com

O desvio da população da agricultura para os serviços e especialmente dos concelhos rurais para os centro urbanos, aliado a factores como a alfabetização, que desmotivou a população para o desempenho de funções que são duras, difíceis e pouco interessantes do ponto de vista económico e de satisfação pessoal, tudo isto somado às novas características da agricultura portuguesa integrada na PAC criou um quadro do mundo rural que se afasta dos parâmetros que regeram estas comunidades ao longo de séculos. Se bem que os temas que afligem as zonas rurais no tempo presente possam ser encontrados na literatura científica do passado, desde os baixos índices de produção à desertificação humana das regiões e respectiva necessidade de atrair mão-de-obra, passando pela falta de associativismo dos agricultores, etc., nada disto preparou as populações rurais para o panorama de total desincentivo da actividade agrícola e abandono dos campos que se tornou a realidade de todas as zonas rurais portuguesas no presente.

No caso de grande parte dos concelhos alentejanos estes problemas assumem características particularmente graves que têm origens profundas e levam à necessidade de criação de novos conceitos de ruralidade. Se até meados do século XX o meio rural foi encarado invariavelmente como fornecedor de bens de consumo, desde produtos agrícolas, que incluem alimentos e matérias primas, até à água, aos combustíveis (lenha, carvão) e à caça, hoje o meio rural português apresenta vivências alternativas. Depois de uma experiência de reforma agrária nos anos 70 e do impacto da Política Agrícola Comum, o que ficou foi a paisagem, gerida por uns poucos proprietários que ainda a querem rentabilizar, ou então o abandono puro e simples, com a consequente negligência que origina a destruição pelo fogo que se tem verificado, especialmente no Verão de 2003.

O que se encontra actualmente no meio rural português é uma nova utilização do espaço que abandonou a agricultura como actividade principal e oferece aos seus utilizadores uma função muito mais associada ao lazer e ao recreio, potenciando os recursos existentes para atrair uma população carente de estímulos que lhe permitam libertar-se dum quotidiano urbano e repetitivo e propensa a uma certa nostalgia da natureza e do retorno ao passado. Actualmente estas utilizações democratizaram-se, o lazer em meio rural passou a abranger um leque mais vasto da população, incluindo os próprios habitantes do meio rural, que agora trabalham sobretudo nas áreas dos serviços. Entre estas salientam-se os passeios em todo o terreno; o turismo cultural em geral, que inclui o consumo de bens patrimoniais (desde o património edificado ao gastronómico, passando pelo artesanal e outros); a utilização dos cursos de água e albufeiras como praias fluviais e para desportos náuticos; e as actividades mais tradicionais como o termalismo, a caça e a pesca.

Ao mesmo tempo, a população rural teve de se adaptar e especializou-se em fornecer estes mesmos serviços, assistindo-se à transformação dos antigos “Lavradores” ou mais recentemente “Agricultores” em “Empresários agrícolas multifacetados”, cujas novas funções incluem a hotelaria, a gastronomia, a organização de caçadas e passeios para os turistas urbanos, nostálgicos de um “passado” ou de uma “qualidade de vida” que eles nunca conheceram, não dominam, mas que lhes é vendida num pacote devidamente acondicionado segundo os padrões estabelecidos pelas regras comunitárias.

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O Papel da Escola no processo de Inserção Social

Alves, M. M. A. L.

Inspecção Geral da Educação – Delegação Regional do Norte.mmala@sapo.pt

Esta comunicação pretende destacar o papel da escola no contexto da política social de inserção. Trata-se de uma investigação desenvolvida no âmbito do mestrado em Desenvolvimento Rural que teve por universo social de estudo beneficiários do Rendimento Mínimo Garantido, onde se relaciona a fraca escolarização dos indivíduos com as suas vidas de pobreza e se questionam a organização escolar, o papel da escola (de segunda oportunidade) e a indiferenciação de respostas para a inserção deste público tão específico.

A articulação de forças entre alfabetização e desenvolvimento coloca a educação na condição de prioridade absoluta para se atingir a desejada integração. Mas esta articulação assenta, por vezes, em concepções redutoras de (des)envolvimento, modelizadas pela produtividade, competitividade e lucro, conducentes a campanhas de alfabetização desenvolvidas numa lógica de “iluminados” e “ignorantes”, ou seja, entre duas racionalidade opostas.

Preconiza-se uma nova estratégia de alfabetização, inserida numa política de educação permanente, tendo em conta a especificidade e a singularidade dos contextos e dos públicos.

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Ambiente e Desenvolvimento. Da Morte à Ressurreição do Alviela

Fernandes, R

Santa Casa Misericórdia de Pernes. ruifernandes@hotmail.com

A consideração da componente ambiental da actividade agrícola veio alterar a visão que se tinha da agricultura. Actualmente esta assume outras funções para além da produção de bens alimentares e fornecimento de matérias-primas, como a função de protecção dos recursos naturais, dos habitats, da paisagem, entre outras.

A crescente consciencialização social para com os problemas ambientais, com o  consequente, ainda que relativamente tardio, reconhecimento da agricultura como fonte poluidora, conduziu à necessidade de uma actuação institucional no sentido de lhes dar uma resposta adequada. Foi neste âmbito que surgiu a legislação ambiental como um instrumento político importante na protecção e preservação do ambiente, da natureza e da paisagem.

Todavia, para além da agricultura, existem outras fontes poluidoras nos espaços rurais que conduzem igualmente a graves problemas ambientais, sobretudo ligados ao desenvolvimento industrial. A poluição das águas é um desses problemas. De facto, a poluição da água pode constituir-se, em muitas regiões do nosso país, enquanto factor limitativo do seu desenvolvimento.

A problemática do desenvolvimento local, por seu turno, remete cada vez mais para a necessidade de aplicação de novos modelos que, paralelamente à alteração das condições estruturais de áreas rurais sujeitas a uma continuada marginalização, resultante de processos de degradação económica, social e ambiental, prefigurem uma sustentabilidade económica, demográfica e social.

Esta investigação centrou-se nas povoações ribeirinhas do rio Alviela. Considerado um dos rios mais poluídos do País, este foi e tem sido alvo de descargas poluentes provenientes das indústrias de curtumes, suiniculturas e aviários instaladas ao longo do rio. A implementação do projecto de despoluição do Alviela (ETAR) de Alcanena, concebido em 1976 e posto em prática passados mais dez anos, trouxe, numa fase inicial, algumas melhorias significativas. Todavia, a poluição tem-se mantido ao longo do tempo e afectado significativamente estas povoações. Analisar e perceber de que forma a poluição do rio tem sido um obstáculo ao desenvolvimento das freguesias ribeirinhas do Alviela, revela-se, assim, um contributo importante para a discussão em torno da relação ambiente e desenvolvimento. Acresce que o caso em análise nos parece ser, sob vários aspectos, paradigmático. 

Partindo do pressuposto que a poluição afecta de forma distinta cada uma das freguesias, realizou-se uma leitura sociológica do discurso proferido pelos diferentes actores sociais locais sobre esta matéria. Espera-se assim, contribuir para perceber a influência que a poluição do rio Alviela assumirá no desenvolvimento local/rural das freguesias em análise.

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Gabinete de Gestão e Conservação da Natureza

Organização de Congressos e Encontros Científicos em Angra do Heroísmo

Comunidade Científica Local Diversificada: Economia, Ecologia, Agronomia, Planeamento, História, Geografia, Medicina, … Centro de Congressos  para 500 pessoas. Acessibilidade diária à Europa e América. Cidade Património. Áreas Protegidas. Golfe. Acesso à Comunicação Social. Segurança

Universidade dos Açores

Vanda Serpa

Campus de Angra do Heroísmo

Telefone: 295 402 229 -  Fax: 295 402 205

9700 Angra do Heroísmo

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