A presença e a ausência da água, doce ou salgada, são factores historicamente fundamentais
na definição das comunidades, das relações formais e funcionais que estabelecem com os
territórios, determinando muito do carácter das paisagens e das formas de povoamento,
condicionando selecção de culturas, formas de exploração, tecnologias agrícolas e hidráulicas,
tipologias construtivas e oportunidades económicas. A água e a relação com ela estabelecida
pelas sociedades constitui assim determinante de primeira ordem para a organização das
sociedades rurais, para a cultura dos povos e para aspectos nucleares dos seus hábitos e
mundivisão.

A água constitui um elemento fundamental à vida. A 28 de Julho de 2010, a Assembleia Geral
das Nações Unidas adoptou a Resolução “O direito humano a água e saneamento”,
sublinhando a importância do acesso à água para a dignidade da vida. É reconhecida, desta
forma, a água potável e o saneamento como direito humano que é essencial à plena fruição da
vida e dos demais direitos humanos. Por outro lado, a Declaração de Dublin (1992) assume,
num dos seus princípios, que a água tem um valor económico em todos os seus usos
concorrentes e deveria ser reconhecida como um bem económico.

A este debate preside um tempo marcado por ritmos e amplitudes de acentuada incerteza,
potenciado pelas alterações climáticas e pelos seus fenómenos extremos (secas, cheias), em
que a água constitui preocupação de primeira ordem, tanto no que diz respeito à sua
disponibilidade, como ao seu consumo e gestão. Será então um momento em que o olhar
historicamente informado sobre a presença e relevância deste elemento na sociedade, na
economia e nas paisagens, partindo dos estudos rurais na sua diversidade disciplinar, é crítico
para uma melhor compreensão do passado e das soluções adoptadas até ao presente,
projectando estratégias que permitam enfrentar o futuro e os desafios que encerra.

Como é que a água, as águas – subterrâneas, pluviais, fluviais, marinhas – condicionam ou
condicionaram a agricultura e a sociedade rural? Que estratégias e que processos de
cooperação ou de conflito se têm verificado no acesso e uso da água? Que usos económicos
lhe foram dados ao longo do tempo? Como é que os recursos hídricos têm sido ou podem ser
utilizados numa perspetiva de sustentabilidade e biodiversidade? Como moldou a água
culturas e Cultura? E, no âmbito das alterações climáticas, como se tem ou pode gerir este
recurso? Como podemos aprender no passado lições valiosas para o futuro?

São estas algumas das questões de partida para a organização do IX Congresso de Estudos
Rurais & X Encontro Rural RePort, organizado pela SPER – Sociedade Portuguesa de Estudos
Rurais (www.sper.pt) e pela Rural RePort – Rede de História Rural em Português
(www.histruralpt.wordpress.com). O evento é acolhido e co-organizado pela Faculdade de Ciências e
Tecnologia (https://fct.ualg.pt/) e pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (https://fchs.ualg.pt/) da Universidade do Algarve (https://ualg.pt/)

Convidamos os interessados, de qualquer área disciplinar ou nacionalidade, a apresentar
propostas de comunicações (até 300 palavras) e de painéis com sessões organizadas de 3 comunicações conjuntas, que contribuam para discutir as diferentes dimensões da água nos sistemas rurais, tendo como orientação preferencial os eixos temáticos abaixo indicados. Seguindo a tradição destes encontros, aceita-se igualmente a submissão de propostas que, não se enquadrando nestas temáticas, permitam alargar o debate transdisciplinar no âmbito dos estudos rurais.