CALIDAD DE LOS ALIMENTOS Y PRODUCTOS TÍPICOS
1. Na Área Temática D contámos com 18 comunicações, 17 das quais foram defendidas
oralmente por um ou mais autores. Na sua maioria, apresentavam estudos de caso de produtos
agrícolas e agro-alimentares típicos ou de qualidade. Assim, falámos de queijos, vinhos,
azeites, frutas e hortaliças, carnes e enchidos/embutidos de Espanha e Portugal. Olhámos também
os produtos da agricultura biológica ou ecológica. Falámos ainda de casos territoriais,
como a Galiza e a Comunidade Valenciana.
As comunicações trouxeram elementos conceptuais e teóricos de valor e apresentaram
contributos para a análise crítica das potencialidades e limites dos produtos de qualidade,
assim como dos efeitos perversos de alguns processos de protecção jurídica. De salientar que
tivemos comunicações que centraram a atenção na organização da oferta (várias dimensões:
produção, transformação, comércio, organização dos produtores, estratégias empresariais,... ),
na procura ou, simultaneamente, na oferta e procura.
2. Os pontos de partida de muitas comunicações eram semelhantes, nomeadamente:
- a crítica do modelo de agricultura produtivista;
- a tensão entre as tendências de uniformização e as contra-tendências de defesa dos
sistemas de produção e produtos locais (ou entre a globalização da vida económica e social
e a valorização da identidade dos territórios locais);
- a emergência de novas procuras e a importância crescente do valor simbólico dos
produtos rurais;
- as oportunidades que os produtos de qualidade abrem para o desenvolvimento
das áreas rurais (aumento do valor acrescentado e da renda, criação de empresas e emprego,
fixação de população em áreas deprimidas);
- a questão da segurança alimentar.
3. O quadro de conceitos e teorias foi enriquecendo à medida que as
comunicações foram apresentadas. Assim, falámos de:
- qualidade, qualidade total e construção social da qualidade;
- tipicidade;
- diferenciação qualitativa (vertical e horizontal);
- signos de qualidade;
- factores de incerteza qualitativa;
- obstáculos e condicionantes da tipicidade;
- estandardização zonal dos produtos (como efeito perverso da protecção júridica);
- elementos que influenciam a percepção de qualidade dos consumidores;
- relação entre distintos modelos empresariais e adopção de estratégias de qualidade;
- gestão da qualidade;
- controlo integrado da qualidade;
- teoria de convenções;
- modelo CQFD de construção da qualidade (Características, Qualidade percebida,
Fontes de qualidades, iDentificação);
- questões de género (na agricultura ecológica);
- nova ética na produção agrária.
4. Não é fácil apresentar conclusões, dada a diversidade dos temas
abordados nas comunicações e nos debates. Aqui ficam algumas ideias tentativas, assim
como questões que urge continuar a debater:
a) A qualidade não é objectiva: é multifacetada; é construção social;
varia com o tempo;
b) A qualidade é uma oportunidade: os produtos de qualidade com denominação
de origem (DO) parecem ter vantagens comparativas face aos homólogos sem DO ; podem contribuir,
nomeadamente, para aumento do rendimento e do valor acrescentado. Contudo, os impactos são
muito diferenciados, variando de produto para produto e de território para território;
c) As empresas do sector agroalimentar (privadas e cooperativas), em
áreas como a produção de vinho, apostam crescentemente em estratégias de valorização da
qualidade (casos de Castilla-la-Mancha, em Espanha, e Região dos Vinhos Verdes, Espanha);
d) As questões simbólicas parecem ser fundamentais na construção do perfil
de qualidade dos produtos ("O que é do mundo rural é bom!");
e) Este facto é hoje amplamente reconhecido e aproveitado pela
indústria agroalimentar convencional e pela grande distribuição, através de mecanismos
diversos, alguns dos quais geradores de confusão entre consumidores (com carácter manipulativo),
nomeadamente na adopção de designação e marcas (artesanal, tradicional, típico, da terra,
natural,...);
f) A protecção jurídica não pode ser tomada como uma receita.
Tem limitações e limites! É uma alternativa (instrumento/ferramenta) a considerar em
determinadas circunstâncias (vinhos, alguns queijos, algumas carnes). Noutras, revela
não ter quaisquer efeitos (caso das frutas no Nordeste Alentejano, Portugal) ou ter mesmo
efeitos perversos (caso de estrandardização zonal - redução da diversidade interzonal dos
produtos através de adopção de cadernos de especificações);
g) A valorização dos produtos típicos passa por muitas outras medidas, por
exemplo ao nível da organização da comercialização (circuitos curtos, relação directa
produto - consumidor,...);
h) Nalgumas situações apresentadas verifica-se a tendência para a concentração
da produção (queijos em Espanha) de produtos com DO, com o domínio crescente de grandes
empresas. As unidades mais pequenas são empurradas para fora da fileira de qualidade
regulamentada, devido à menor capacidade para investir e seguir as normas estabelecidas.
Nestas circunstâncias, interessa nomeadamente investigar quais os efeitos da concentração
na distribuição e fixação local de benefícios;
i) Verifica-se ainda a tendência para a crescente competição entre produtos
industriais (sem DO) e produtos com DO, assim como para a competição entre produtos da
mesma DO mas de marcas diferentes. Neste capítulo, interessa investigar as estratégias de
marca e de marketing mais adequadas à defesa dos produtos típicos;
j) Aplicando a chamada Teoria das Convenções ao estudo das DO
(por exemplo, queijos em Espanha e enchidos em Portugal), verifica-se que as chamadas
convenções Doméstica (importância do interconhecimento e das relações de confiança entre
produtor e consumidor) e Cívica (importância de valores como a defesa da ruralidade e a
preservação do ambiente) são formas dominantes de coordenação que regulam as trocas;
k) A qualidade não é apenas uma construção social (faruto da interacção /
negociação entre diferentes actores de fileira), é também e crescentemente uma construção
política (fruto de intervenções e decisões políticas);
l) A organização dos produtores e a sua participação na construção de
estratégias de valorização dos produtos típicos é uma questão crítica. Porém,
verifica-se ainda uma enorme falta de informação e de formação e a consequente ausência
de capacidade técnica e de estratégia face ao mercado;
m) A produção agrícola segundo métodos biológicos/ecológicos saiu
da marginalidade política, sendo hoje reconhecida como uma alternativa de valor no
contexto do desenvolvimento de agricultura sustentada. A produção tem crescido
(exponencialmente) e a procura também. Portugal e Espanha são sobretudo países
consumidores, sendo o consumo ainda baixo. Há nesta área, contudo, vários paradoxos e
desafios cuja consideração é importante no sentido de definição de estratégias consistentes
para o sector.
5. O debate suscitou também bastantes interrogações e perplexidades,
nomeadamente:
- Conceito de produto e DO: Não haverá uma crescente divergência entre o conceito de
produto típico e a concessão de DO? Quais os efeitos?
- As normas (por exemplo em termos de instalações de transformação, como queijarias):
defendem ou matam a tradição?
- A industrialização: não estaremos a caminhar, em muitos DO, para a industrialização da
tradição? Quais os riscos? Quais as vantagens e para quem?
- Os critérios de delimitação: não serão demasiado genéricos? Não deveriam comportar
outras dimensões, como a ecológica?
- Canais de distribuição: quais os canais mais eficazes para os diferentes tipos
de produto? Quais os efeitos das estratégias da grande distribuição face aos produtos
típicos e de qualidade? (feiras, contractos de produção exclusiva, …)
- Usos e abusos dos signos de qualidade: como informar e formar o consumidor para
que este possa fazer uma leitura crítica dos signos e uma escolha criteriosa dos produtos a
consumir?
- Poder regulador: quem tem efectivamente poder regulador,
os Conselhos Reguladores ou outros grupos de interesse (políticos, empresas de distribuição,
instituições públicas)?
- Território: como construir sinergias entre a valorização de produtos típicos e
outras iniciativas de desenvolvimento local? Qual o valor ou impacto de tais sinergias?
- Segurança alimentar: quanto estão disponíveis a pagar os consumidores pela segurança
alimentar? Quis as atitudes dos consumidores face ao risco? Quais os efeitos económicos da
regulação da segurança alimentar? Quais os efeitos das políticas de segurança alimentar no
comércio internacional?